21 de janeiro de 2005

Noite na Taverna

Álvares de Azevedo, 1855, Brasil

“Contos fantásticos” (classificação do próprio autor) amarrados pelo contexto em que se inserem: os personagens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann, reunidos em uma taverna, ao sabor do vinho e do tabaco, narram suas histórias.

A atmosfera do livro é sombria, a escuridão prevalece. O sexo, a mulher e a morte são elementos comuns a todas as narrativas. A perdição, aliada ao demônio, e a inexorabilidade do destino acentuam o caráter trágico dos personagens. Necrofilia, antropofagismo, traição, assassinato e incesto desfilam nas páginas de Noite na Taverna.

Apesar de uma paisagem predominantemente européia, especialistas afirmam que o autor, a partir dessa obra, elabora uma das matrizes da ficção brasileira. Nas palavras de Adonias Filho: “O acervo do cancioneiro anônimo em sua fase oral, criado pelo povo em sua imaginação mítica – os fantasmas e os aventureiros, a mulher e o demônio, o amor e a morte –, ressurge nos contos de Noite na Taverna transfigurado literariamente. A base, pois, é culturalmente brasileira”.

Aqui vai um pequeno trecho que atesta a genialidade e apuro estético de Álvares de Azevedo: “E pois ergamo-nos, nós que amarelecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher”.

Nenhum comentário: