28 de abril de 2005

Cultura: um conceito antropológico (não-ficção)

Roque de Barros Laraia, 1986, Brasil

O trabalho de Laraia pretende introduzir o leitor ao conceito antropológico de cultura (dado essencial para melhor compreensão da natureza humana). Através de uma profusão de exemplos, surge uma descrição histórica sobre o desenvolvimento do tema – idéias sobre a origem e teorias modernas da cultura.

O texto dispõe de argumentos que desconstroem idéias como o determinismo biológico, sexual ou geográfico, além do conceito de evolucionismo cultural. Segundo Laraia, “tais crenças contém o germe do racismo, da intolerância, e, freqüentemente, são utilizadas para justificar a violência contra os outros” (p. 73).

Na segunda parte do livro, o antropólogo também ilustra como a cultura opera nas sociedades, condicionando a visão de mundo do homem e interferindo no seu plano biológico. Citando Geertz, Laraia mostra que o homem é “não apenas o produtor da cultura, mas também, num sentido especificamente biológico, o produto da cultura” (p. 57).

Ótima leitura, um texto bastante instrutivo!

27 de abril de 2005

Sobre o Tempo (não-ficção)

Norbert Elias, 1984, Alemanha

O que é o tempo? Qual sua definição mais coerente? A partir dessas perguntas, surge um ensaio intrigante que tenta contribuir para a elaboração de um conceito adequado sobre o ‘tempo’. Conceito esse que avalia as tradições físicas e filosóficas que já fizeram essa busca, e desmistifica a departamentalização das respostas que separam o homem (social) da natureza (física). Outra grande qualidade do texto é trazer à luz – com bastante propriedade – novas reflexões sobre diversas áreas do conhecimento humano.

O sociólogo alemão afirma que o tempo não existe em si, não é um dado objetivo à disposição do ‘sujeito do conhecimento’, tampouco se trata de uma elaboração subjetiva de cada indivíduo. Segundo ele, “o tempo é, antes de tudo, um símbolo social, resultado de um longo processo de aprendizagem” (cc).

Através de uma exploração sociológica, o livro “formula a questão muito geral de saber com que objetivo os homens necessitam determinar o tempo” (p. 13). No contexto dessa proposta, Elias reflete, recorrentemente, sobre o aspecto fundamental do ‘processo civilizador’; processo “que contribui para formar os hábitos sociais que são parte integrante de qualquer estrutura de personalidade” (p.14).

Não há como afastar, daquilo que se percebe como o tempo, as influências significantes da linguagem e de uma cultura herdada. Esse é o alicerce central da argumentação do autor.
Nas palavras de Elias: “O estudo do ‘tempo’ é o de uma realidade humana inserida na natureza, e não de uma ‘natureza’ e uma realidade humana separadas” (p. 79).

“Repetimos: a auto-regulação ‘temporal’ com que deparamos em quase todas as sociedades avançadas não é um dado biológico, ligado à natureza humana, nem tampouco um dado metafísico, ligado a algum a priori imaginário, porém um dado social, um aspecto da evolução social da estrutura de personalidade, que, como tal, torna-se parte integrante da individualidade de cada um” (p. 119).

A obra não é de leitura fácil, apresenta uma erudição que pode incomodar ao leitor comum. Mesmo assim, mesmo não alcançando a totalidade do entendimento, não se pode negar um aprendizado interessante, um novo entendimento que desvia o olhar – sobre o tempo – do lugar comum.

24 de abril de 2005

Antônio & Cleópatra

William Shakespeare, 1607, Inglaterra

Mais uma tragédia desse grande dramaturgo inglês. Essa, baseada em fatos históricos: o envolvimento amoroso do grande líder militar romano, Marco Antônio, e a rainha do Egito, Cleópatra.

Por trás de tudo, o palco político da disputa pelo poder no Império. O triunvirato romano – Otávio (filho de Júlio César), Marco Antônio e Lépidus – se dissolve, e a contenda pelo poder supremo se transforma no principal combustível dessa tragédia.

Paixão e política são temas explícitos dessa obra de arte da literatura shakespeariana.

20 de abril de 2005

Alice no País das Maravilhas

Lewis Carroll, 1865, Inglaterra

Um texto leve e saboroso e narrativa que apresenta cenários oníricos e surrealistas, além da profusão de situações nonsense. Com esses elementos, o autor elabora um livro de linguagem infantil, mas que deve ser apreciado por todos que gostam de literatura.

Questões profundas como “quem sou”, “pra onde vou”; e avaliações sobre o tempo, a sociedade e a fluidez da realidade temperam essa história fantástica.

Em linha com a literatura infanto-juvenil, estão presentes várias “lições” sobre a arte de viver; tudo para o deleite intelectual dos leitores de todas as idades.

Sonho, imaginação ou inconsciente? Tudo se encaixa na análise desse texto que subverte a linearidade da percepção que acreditamos possuir.

Não é um livro pra ser devorado de uma vez. Deve-se ler com a calma, a atenção e a curiosidade que as crianças tão bem demonstram.

“Por quê? – Disse a lagarta. Era outra pergunta intrigante” (página 62).