28 de fevereiro de 2005

Os Últimos Dias de Pompéia

Edward George Bulwer-Lytton, 1834, Inglaterra

Os Últimos Dias de Pompéia é uma das obras mais conhecidas da ‘chamada’ literatura universal. Esse romance histórico elabora uma reconstrução do passado, baseada nas mais rigorosas documentações acerca da cultura, dos costumes e dos dados arqueológicos reunidos pelos trabalhos nas ruínas da cidade romana de Pompéia. Escusado dizer que Pompéia foi devastada pela erupção do Vulcão Vesúvio, no ano 79 d.C.

Uma história envolvente e instrutiva que revela as leis e os costumes da época; ensina sobre a arquitetura romana do período; ilustra a mistura e propagação das culturas egípcia, grega e romana; e traz uma idéia de como foi o início da difusão do cristianismo entre os povos ‘considerados’ pagãos.

21 de fevereiro de 2005

Hamlet

William Shakespeare, 1600, Inglaterra

Poesia, filosofia, metalinguagem. Corrupção, vingança, morte. Complexidade, genialidade, humanidade. O que se pode dizer dessa obra de arte magnífica? “Palavras, palavras, palavras”. Calo-me, assombrado... Ou melhor, transcrevo uma pontinha de toda essa sabedoria.

Sobre a morte: “Nesses momentos, o verme é o único imperador. Nós engordamos todos os outros seres para que nos engordem; e engordamos para engordar as larvas. O rei obeso e o mendigo esquálido são apenas variações de um menu – dois pratos, mas na mesma mesa; isso é tudo” (Hamlet, ato IV, cena III).

19 de fevereiro de 2005

O Leopardo

Giuseppe Tomasi, príncipe de Lampedusa, 1958, Itália

O romance narra a história da decadência da nobreza italiana frente à ascensão da burguesia. Os fatos se desenrolam a partir de maio de 1860, tendo como centro de gravidade o Príncipe Fabrizio e sua família.

Muito bem escrito, o livro possui uma força descritiva que chega a nos transportar para os acontecimentos. Um grande trunfo da obra é a força representativa de seus personagens. Como avalia Ruy Goiaba, eles “conseguem funcionar como símbolos das classes a que pertencem sem deixar de ser redondos, complexos”.

No texto surge uma contumaz crítica às revoluções sociais. Quase sempre realizadas pela elite, pouco subvertem a ordem contra a qual combatem. Um trecho: “E que irá acontecer então? Ora! Negociações ao ritmo de descargas inofensivas. Depois tudo ficará na mesma, embora tudo tenha mudado”. E, mais adiante: “Não há dúvida; tudo ficou como dantes, melhor mesmo”.

Além do contexto histórico e social, O Leopardo não deixa de trazer conflitos psicológicos: paixões reprimidas, luxúria e religiosidade, o confronto com a morte. Ótima leitura!

15 de fevereiro de 2005

Admirável Mundo Novo

Aldous Huxley, 1932, Inglaterra

A obra é uma fábula de uma provável sociedade do futuro. Nesse mundo, a tentativa de se acabar com os conflitos, com a dor e a angústia humana produz uma comunidade alienada, que nunca enfrenta a realidade e é incapaz de um pensamento livre.

Nele, as crianças nascem no laboratório, a educação é baseada no condicionamento permanente e para qualquer problema emocional existe o “soma” – a droga da felicidade produzida e distribuída pelo governo. Qualquer semelhança com nossa sociedade não é mera coincidência...

Em “Admirável Mundo Novo” (expressão retirada de A tempestade de Shakespeare – a intertextualidade com o dramaturgo é intensa) as classes sociais são produzidas biologicamente, controladas em castas, qualquer possibilidade de conflito é anulada. Além disso, o comportamento consumista é louvado, é ele que, segundo os governantes, faz a roda do mundo permanecer em movimento.

A recorrência da palavra “pseudo” é um traço marcante do texto; quase nada é natural – desde o pseudo-sangue, para a melhor saúde, ao pseudo-couro-legítimo, para a moda da época. Chega-se assim a uma pseudo-realidade; as experiências vividas são provenientes de um simulacro de sensações, seja no cinema sensível ou nas viagens proporcionadas pelo “soma”. A felicidade permanente deixa o homem numa escravidão perpétua, dominado pelo sistema que ele próprio criou.

Huxley nos presenteia com um grande livro, uma leitura simples, um pensamento questionador. Ele nos faz refletir sobre o nosso futuro, pensar naquilo que queremos para a humanidade e naquilo que fazemos para promover ou subjugar a liberdade humana.

Muitas obras posteriores sofrem influência temática desta narrativa, dentre elas podemos citar: 1984, de Orwell, e os filmes: Alphaville de Godard, Blade Runner de Scott, até o recente Matrix.

4 de fevereiro de 2005

Primeiras Estórias

João Guimarães Rosa, 1962, Brasil

Essa é mais uma daquelas obras de arte, únicas. Não pode o leitor pretender absorver o todo de seu significado; a interpretação é particular e fragmentária, as descobertas se acumulam a cada releitura. Trata-se de um estilo sofisticadíssimo, de leitura não muito fácil, mas como, acertadamente, afirma Paulo Rónai na introdução da edição de 2001 da editora Nova Fronteira: “Por menos que se pegue dessa profusão barroca, o leitor médio ainda pegará bastante para ceder ao encantamento”.

Rosa é um dos grandes gênios da literatura brasileira, e este livro é apontado pelos “entendidos” como o melhor para iniciação em sua obra.

Primeira Estórias é uma coletânea de contos de temática variada – psicológica, trágica, fantástica, autobiográfica, anedótica, filosófica... – , saborosas ‘estórias’. Além do caráter universal de seus textos, Rosa planta palavras novas que, ao desabrocharem em nossos olhos, ampliam os significados e a compreensão das coisas. Pura poesia em prosa.