27 de dezembro de 2004

História Universal da Infâmia

Jorge Luis Borges, 1954, Argentina

“Coletânea de curtas biografias romanceadas dos maiores malfeitores da humanidade [...] Borges faz desse livro uma enciclopédia da crueldade”, é o que afirma uma sagaz descrição comercial da obra. O texto possui narrativa ágil e sofisticada, é dotado de uma ironia saborosa e foi elaborado com técnicas jornalísticas: texto, fontes, aspas, títulos e manchetes. Trata-se de uma reunião de contos publicados pelo autor no suplemento literário do jornal Crítica, que circulava na Argentina no início dos anos 30. Prazer literário e estético, informação e conhecimento, tudo isso se apresenta nessa breve leitura.

23 de dezembro de 2004

Razão e Sensibilidade

Jane Austen, 1811, Inglaterra

Sociedade mesquinha, apegada à aparência e ao dinheiro, é o quadro da Inglaterra do início do século XVII pintado pela autora aos 36 anos de vida. Uma leitura envolvente e instrutiva aguarda o leitor que se debruçar por esse clássico da literatura universal.

Sobre esse pano de fundo, sobressai a história de duas irmãs, Elinor e Marianne, ambas com traços marcantes de personalidade e unidas por uma amizade tamanha. A primeira caracteriza-se pela racionalidade, prudência e comedimento nos atos; pode-se dizer que nunca houve uma personagem de tão impressionante senso de imparcialidade, algo que beira o sobre-humano. A segunda, uma guria apaixonada, que flutua ao sabor das emoções, incontida.

As irmãs representam dois lados do componente humano, que antes de serem contraditórios, são complementares na composição da vida.

18 de dezembro de 2004

Almas Mortas

Nicolai Gógol, 1842, Rússia

Na Rússia de relações de servidão entre trabalhadores rurais e proprietários de terras, dá-se o nome de “almas” aos servos que cada patrão possui no campo e que pode negociar como escravos... É aí que se dá o enredo, quando o protagonista busca adquirir, por toda a Rússia, servos que já morreram e que ainda constam nas listas de recenseamento...

Miséria, ignorância, corrupção... estes elementos afloram em uma narração ágil e sincera, na qual o autor pretende, com realismo, ir a fundo na sociedade russa. A presença de um anti-herói (o próprio autor o contrasta com os heróis virtuosos de costume) é a nota que valoriza a denúncia às atitudes da época.

Tudo isso num cenário de imensa vastidão, quase sufocante, de estradas que levam a diferentes matizes do grande território russo.

16 de novembro de 2004

Memórias de Adriano

Marguerite Yourcenar, 1974, França

A história do Imperador Romano Adriano é contada em forma de memórias escritas pelo próprio soberano. Uma obra de ficção fascinante que, de acordo com seu editor, obedece a um rigoroso processo de reconstituição histórica.

Criação literária de força ímpar, o livro nos conduz ao universo social e psicológico deste recorte do Império Romano. Filosofia, política, medicina, militarismo... a autora constrói um grande painel acerca do conhecimento da época.

Historicamente, Adriano é um personagem reconhecido por incorporar os grandes atributos do Humanismo antigo.

1 de novembro de 2004

Os Sertões

Euclides da Cunha, 1902, Brasil

O livro de Euclides da Cunha foi inovador em seu tempo. Diferentemente da tradição que imperava – a imagem do litoral como representação brasileira – pela primeira vez, com tal exuberância de detalhes e de forma sistemática, o interior brasileiro é o foco da retratação.

O sertão, o sertanejo e a Guerra de Canudos – aí estão o cenário, o personagem e a ação narrados por Euclides. O livro é um documento histórico de leitura obrigatória para quem deseja não ignorar acontecimentos marcantes do país. Uma obra maravilhosa que retrata a miséria, a religiosidade, comportamentos humanos e peculiaridades deste pedaço de chão brasileiro; além de ilustrar os traços dos Estudos Sociais Brasileiros do final do século XVII.

Veja este depoimento que sintetiza bem o espírito do livro: "Eu tinha que ler Os Sertões se queria ser um escritor brasileiro. Meti isso na cabeça e entreguei-me à tarefa obrigatória. No início foi penoso, mas bravamente, atravessei as áridas páginas da primeira parte, A Terra, e passei ao capítulo seguinte, de travessia igualmente difícil, pelo menos até chegar aos tipos humanos – o sertanejo, o vaqueiro, o jagunço... Meu interesse era conhecer a história de Antônio Conselheiro, que se tornara lendária, tema dos cordéis da infância. E, quando a ela cheguei, não larguei mais o livro até a última página do derradeiro capítulo". FERREIRA, Gullar (Folha de S. Paulo, 1o. dez. 2002, caderno Mais!, p. 5).