2 de abril de 2008

História & Fotografia (não-ficção)

Maria Eliza Linhares Borges, 2003, Brasil

Contribuir para um diálogo fértil entre História e Fotografia, essa é a intenção principal deste texto que aborda critérios teórico-metodológicos acerca da utilização de imagens fotográficas no campo da análise histórica.

O livro analisa, inicialmente, as razões que “levaram uma parcela significativa da comunidade de historiadores do século XIX a estabelecer uma hierarquia de importância entre as fontes de pesquisa histórica, a classificar as fontes visuais como documentos de pesquisa de segunda categoria e, finalmente, a não incluir a fotografia no rol dos documentos de pesquisa em História” (p.12).

Em seguida, a autora busca mostrar que, “embora rejeitada como fonte de pesquisa histórica, a fotografia introduziu um novo tipo de ver e dar a ver a diversidade do mundo moderno, rapidamente incorporado por homens e mulheres do século XIX e das primeiras décadas do século XX. Sem pretender desenvolver uma história da fotografia, elegemos algumas representações fotográficas de maior expressão no século para, a partir delas, buscarmos compreender os usos e as funções sociais a elas atribuídas pelos fotógrafos, profissionais e amadores, dos anos oitocentos. Simultaneamente a esse descortinar do olhar fotográfico introduzimos alguns dos critérios que hoje orientam a análise dessa importante fonte de pesquisa histórica” (p.12-13).

Por fim, Maria Eliza trata da relação hoje existente entre a história-conhecimento e o documento fotográfico, fazendo uma reflexão sobre a natureza da linguagem fotográfica e realizando “uma breve incursão sobre as viagens fotográficas, de estrangeiros e nacionais, através do Brasil imperial e republicano” (p.13).

A fotografia para a História Cultural
Para o novo paradigma histórico da História Cultural, a questão não é propor a utilização da fotografia como recurso ilustrativo do texto histórico, tampouco como documento que tem a pretensão de espelhar fielmente a realidade (ilusão bastante comum quando se fala de imagens fotográficas). A fotografia agora ascende à condição de fonte, de objeto capaz de oferecer informações importantes para a elaboração de interpretações históricas.

Maria Eliza descreve esse novo papel da imagem para a historiografia contemporânea:

“Quando as imagens visuais, dentre elas a fotografia, são utilizadas como fontes de pesquisa histórica, é porque funcionam como mediadoras e não como reflexo de um dado universo sociocultural. Integram um sistema de significação que não pode ser reduzido ao nível das crenças formais e conscientes. Pertencem à ordem do simbólico, da linguagem metafórica. São portadoras de estilos cognitivos próprios” (p.18-19).

“[...] as imagens fotográficas, assim como as literárias e sonoras, propõem uma hermenêutica sobre as práticas sociais e suas representações. Funcionam como sinais de orientação, como linguagens. Quando utilizadas com fins compreensivos e explicativos, elas demandam não apenas o emprego de metodologias afinadas com seus estilos cognitivos – que ajudam a ler e interpretar suas ambigüidades e seus silêncios – como também o cruzamento com outros tipos de documentos” (p.72).

“Ao lidar com as imagens visuais, o historiador as encara como um documento, como uma construção cultural, cuja confecção e difusão têm uma história que não pode ser desconhecida pela análise histórica. Sabe que as formas e os conteúdos imagéticos podem sofrer alterações, voluntárias ou não” (p.81).

A imagem é fixa, o sentido não é
“Hoje não mais se duvida da natureza polissêmica da imagem, da variabilidade de sentidos de suas formas de produção, emissão e recepção. Sabe-se que uma imagem visual é uma forma simbólica cujo significado não existe per si, quer dizer, ''lá dentro', como coisa dada que pré-existe ao olhar, à intenção de quem o produz'. Vista sob essa ótica, ela deixa de ser espelho ou duplicação do real, como queriam os historiadores da historiografia metódica. Apresenta-se como uma linguagem que não é verdadeira nem falsa. Seus discursos sinalizam lógicas diferenciadas de organização do pensamento, de ordenação dos espaços sociais e de medição dos tempos culturais. Constituem modos específicos de articular tradição e modernidade. Por tudo isso, sabe-se que uma dada imagem é uma representação do mundo que varia de acordo com os códigos culturais de quem a produz” (p.80).

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