3 de janeiro de 2007

Grandes Símios

Will Self, 1997, Inglaterra

Simon Dykes, um importante artista plástico londrino, acorda e descobre que sua namorada se transformou num chimpanzé. Na verdade, todos os habitantes do planeta se tornaram símios, inclusive ele. E nessa civilização de chimpanzés e bonobos, os humanos não passam de animais selvagens que habitam as florestas e os zoológicos.

Simon se imagina louco, resiste a essa realidade e é internado como um paciente psiquiátrico. Seu diagnóstico: delírio humano.

Aos poucos o paciente dá sinais de melhora, vai recuperando sua ”chimpunidade” e é reintroduzido ao convívio social. Nesse “mundo macaco”, o personagem se depara com comportamentos que contrastam bastante com suas lembranças humanas: O sexo é irreprimido, a qualquer hora e local as fêmeas no cio aceitam machos para cobri-las; orgias ocorrem em público; a nudez é regra; o incesto é permitido; a catação é norma social; o contato físico é abundante e até crucial para a comunicação entre os indivíduos.

Com essa inversão súbita da hierarquia das espécies, Will Self constrói um texto saboroso e fluido, rico de insigths sobre sociedade e indivíduo. Arte, antropologia, sociologia, filosofia, psicologia e medicina são alguns dos discursos mais presentes na tessitura dessa sátira surreal da condição humana.

Destaco essas belas pavras - uma fria, distanciada, correta e reveladora visão de nós mesmos, “bichos homem”:

“Humanos correndo eretos com seu passo de pernas duras; humanos caminhando em bandos, todos separados pela distância de um braço; humanos sentados juntos, sem se tocar, sem se catar, perdidos na incomunicativa prisão de seu magro senso, de seu primitivo modo de pensar” (p.228).

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