9 de novembro de 2005

Meditações Sobre Filosofia Primeira (não-ficção)

Renato Des Cartes (René Descartes), 1641, França

Descartes ficou sumamente conhecido na história da Filosofia por buscar estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático, para o conhecimento da verdade.

Este tratado, apresenta, ao todo, seis meditações que expõe a progressão do pensamento cartesiano.

O autor inicia sua reflexão propondo a dúvida e o questionamento de tudo, para que, despidos dos preconceitos, possamos alcançar a Verdade. Segundo Descartes: duvidar para eliminar qualquer dúvida. Para tanto, os argumentos expostos indicam ‘enganos’ provocados pelos sentidos e a falta de certeza sobre a realidade vivenciada. Descartes chega à beira do solipsismo*, ao duvidar da existência do mundo material, questionando se a vida não passaria de um sonho ou devaneio.
“Quid igitur erit verum? Fortaffis hoc unum, nihil effe certi. // Que será, então, verdadeiro? Talvez isso somente: nada é certo” (p.42 // p.43).

Nesse momento surge sua primeira constatação (que tantas vezes já foi repetida através do lugar-comum: ‘penso, logo existo’), qual seja, apesar de todas as dúvidas, a mente percebe a impossibilidade de ela própria não existir. Nada, “nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou algo” (p.45).

E segue com estas belas palavras: “Eu, eu sou, eu existo, isto é certo. Mas por quanto tempo? Ora, enquanto eu penso, pois talvez pudesse ocorrer também que, se eu já não tivesse nenhum pensamento, deixaria totalmente de ser. [...] Sou, porém, uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente. Mas, qual coisa? Já disse: coisa pensante” (p.49).

Daí pra frente, Descartes intenta provar a existência de Deus, e esse é o ponto chave de sua filosofia, para escapar da idéia solipsista. “Devo examinar se há um Deus e, havendo, se pode ser enganador. Pois, na ignorância disso, não parece que eu possa jamais estar completamente certo de nenhuma outra coisa” (p.73).

A obra prossegue examinando essas questões e extraindo conclusões através desse método que se pretende rigoroso e matemático. Em resumo, o método cartesiano consiste em algumas regras:

{{1. A primeira regra é a evidência: não admitir "nenhuma coisa como verdadeira se não a reconheço evidentemente como tal". Em outras palavras, evitar toda "precipitação" e toda "prevenção" (preconceitos) e só ter por verdadeiro o que for claro e distinto, isto é, o que "eu não tenho a menor oportunidade de duvidar". Por conseguinte, a evidência é o que salta aos olhos, é aquilo de que não posso duvidar, apesar de todos os meus esforços, é o que resiste a todos os assaltos da dúvida, apesar de todos os resíduos, o produto do espírito crítico. Não, como diz bem Jankélévitch, "uma evidência juvenil, mas quadragenária".
2. A segunda, é a regra da análise: "dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possíveis".
3. A terceira, é a regra da síntese: "concluir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer para, aos poucos, ascender, como que por meio de degraus, aos mais complexos".
4. A última á a dos "desmembramentos tão complexos... a ponto de estar certo de nada ter omitido"}}.
(Regras, de 1 a 4, retiradas do site http://www.mundodosfilosofos.com.br/descartes.htm)

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*Solipsismo - Doutrina que considera o eu como única realidade no mundo. Em outros termos, nada existe, exceto a sua mente; ela seria a única realidade da qual se possui certeza absoluta.

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