O cenário é a Alemanha nazista. O tempo é a Segunda Guerra Mundial. A narradora é a Morte. E a protagonista é uma menina de oito anos, Liesel, a quem coube o rótulo de roubadora de livros, mas que era só uma doce menina que descobriu nas palavras todo o amor e ódio desse mundo.
Amor com o pai de criação, Hans Huberberman, a ensinar-lhe o mecanismo das letras que formam palavras e frases lidas.
Ódio nas palavras de Hitler, que dominaram a mente alemã e promoveram atrocidades inimagináveis.
E no meio desses dois extremos, toda a beleza, angústia, paixão, medo, alegria, desespero e descoberta encontrados na vida vivida e nas palavras colhidas pelo caminho.
Uma encantadora história que, se não é revolucionária do ponto de vista literário, foi escrita de forma bastante original, mesclando relatos telegráficos, poesias reveladoras, uma prosa muito bem trabalhada, e cores, muitas cores escritas.
Há muito que se falar sobre a obra, sobre seus personagens e como eles refletem a cena alemã da época e acabam por traduzir toda a humanidade, pois no texto existem as mais variadas matizes das manifestações que o ser humano é capaz. Mas prefiro me reter à importância metalingüística que o autor dá às palavras (ouvidas, ditas, lidas e escritas), essa matéria bruta com a qual é possível fazer o que se imaginar, com a qual sorrimos e choramos, e sem qual não vivemos.
Vamos a algumas:
"Por hora, Rudy e Liesel caminharam para a Rua Himmel, embaixo de chuva.
Ele era o maluco que se pintara de preto e derrotara o mundo inteiro.
Ela era a roubadora de livros que não tinha palavras.
Mas, acredite, as palavras estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens, e as torceria feito chuva" (p.72).
"Odiei as palvras e as amei, e espero tê-las usado direito" (p.458), afirma Liesel nas últimas linhas de seu livro, que também encontra-se dentro da obra.